E se eu fosse rico
Se eu fosse rico comprava um burro e uma quinta.
O burro tirava água da nora. Mas não era como outrora,
que tinha que andar à roda e de olhos vendados.
A nora seria toda telecomandada.
O meu burro só tinha que saber usar o telecomando.
Os alcatruzes da nora seriam em forma de botões de rosa e quando despejavam a água para o tanque electrónico desabrochavam de todas as cores.
O tanque seria equipado com o último grito tecnológico para levar a água a todos os cantinhos da quinta.
Por exemplo, número um, canteiro das roseiras de rosas amarelas, número dois, canteiro das roseiras de rosas vermelhas, número três, canteiro dos lírios roxos campestres…
A quinta albergaria aves de todas as espécies. Todas seriam de boa linhagem e com pedigree.
Viveriam todas em comunidade.
As águias, os corvos e outras aves carnívoras não podiam caçar na minha quinta.
O corvo mais velho seria um género de maioral.
Nada passa despercebido aos olhos de um corvo velho.
O meu burro seria sindicalizado.
Sim!
Sindicalizado.
Mas, por um sindicato moderno, sem qualquer ligação ao passado.
Um sindicato sem vícios…
Um sindicato sério defenderia os direitos do meu burro.
E um burro contente, não se cansa de ser burro!
Aires Plácido